terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Bicho sim...


Sabe rato, pássaro, crocodilo, morcego. Quero ser um. Urgentemente. Cansei de ser gente, num mundo onde tem tanta gente oca, e bicho é considerado lixo.

Rã, leão, gato, gavião, qualquer um serve. Mas um bicho bem longe de gente. Um bicho bem bicho. Selvagem. No meio do nada, sem nada no meio, só a natureza e meu corpo. Sem sentimentos fúteis.

Comida, água, merda e sexo.

Um bicho preguiça, não ter que aturar fila, correria, sapato apertado. Não ter que aturar tanta bosta inventada por gente.

Num belo domingo, virar do avesso, namorar até cansar. Sem telefone, fumaça, relógio. Nem a porra do bloco de notas que escrevo agora.

Acordar e respirar ar puro. Dormir sem despertador.

Num lugar bem distante, em que "gente" fique bem longe. Onde não me incomode com suas matanças e sua discrepância.

Eu quero ser um desses bichos agressivos, que devora seres humanos ruins - sem dó.

Matar sim, porque essa espécie de "gente" precisa entrar em instinção.



Mayna Delle Donne Néo.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Tempo


Porque tanta procura, porque tanta inquietação. Tic.

Me pergunto insistentemente porque não nasci barata. Tac.

Porque saber que se tem um fim, é a pior angústia de existir. Tic.

São as horas passando que me sufocam, sussuram: -a jornada é curta. É cruel. Tac.

Não existe subterfúgio, nem cordialidade, não é nada ameno. Tic.

Me trás o medo e o pavor de não arriscar tudo que posso. Tudo que devo. Tac.

Flores. Pássaros. Relva. Soluço. Silêncio. Neblina. Vento. Mar. Aurora. Tic.

Tanta poluição. Tanta buzina. Tanta fumaça. Tanta desgraça. Tanto farol. Tanta tecnologia. Tanta gente, que não se consegue enxergar mais ninguém. Tac.

Tanta tecnologia criada para não desperdiçar tempo. E não tem tempo para viver. Tic.

Pra onde caminhamos? Pelo que lutamos? Quem amamos? Pra onde vão todos esses soldadinhos invólucros? Tac.

Despidos de vida, de cor e dor. A sensação é única. O auge é o fim. Rezamos e suplicamos pelo final. Tic.

O término da infância. O fim das espinhas. A faculdade concluída. O fim da corrida. O fim da luta. O fim do fim? Tac.

Se é por este mísero fim, que marchamos estupidamente para morte, acreditando ir para o paraíso. É então, um maldito fim. Tic.


Mayna Delle Donne Néo

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A vida é dor


Queria passar um tempo longe de mim...

Um tempo em que tivesse a chance de não me encarar, não me sentir....

Não ver os mesmos velhos erros e chatisses...

Viajar de mim mesma...

Viajar e não me levar junto...

Sem peso na bagagem, com as mãos leves, o pensamento traquilo...

Não me ver por um mês, viver na pele de outra pessoa...

Com outros problemas, outras vontades, outros pesadelos, outras angústias...

É solitário saber que irei me aturar a vida toda...

Nesse mesmo corpo...mesma cabeça...e alma...
Mayna Delle Donne Néo