Torturo minha alma. É o que faço cada vez que despedaço o belo. Descontruo o novo. Amarro os sonhos.
Em cima de um penhasco. Miro a ponta dele. Risco o chão com minha alma. E ameaço pular. Saltar de mim. Fugir do que sou. E do que não sou.
Lá embaixo tudo verde. Cheio de cores. Luzes. Pássaros. Brilho intenso. Relva. Surreal. Flores, flores, flores.
Eu quero pular. Quero encontrar com o belo. Me desprender do material. Mas conforme impulsiono meu corpo. No mesmo momento já sei que estou me enganando. Sei que sou covarde. Fraca.
O nó na garganta é a prova do que está engasgado. Amarrado. Em eterno conflito.
O penhasco está lá. Lindo. Me esperando....
Sem frescura, sem hora marcada, sem problemas. Ele é simples, é real. É completo.
O resto são criações. O resto são invenções da própria ausência da alma em conflito com a busca. Com um mundo tão vazio...
Saio do penhasco e caminho de volta. Admito minha insensatez. Ignorância. Falta de capacidade.
Sei que o penhasco continuará me chamando...
Vai me chamar sempre.
Implorando o meu voo. Voo livre. Alma solta. Pés fora do chão. Tudo que sempre almejei. Embora sempre tenha fugido...
Continuo na terra. Sentindo o ardor do chão quente sob os meus pés. Sentindo o peso dos seres se despedaçando por muito pouco...
Assistindo um jogo de egos, manipulações, egoísmo e tortura.
Atestando cada vez mais minha indiferença. Vendo tudo e nada fazendo. Apenas reclamando...
Penhasco...
Uma parte minha eu atirei hoje no penhasco, as 04:54 da manhã desta segunda-feira- 18 de abril de 2011. O vento levou e vai fazer dela o que ele bem entender...
Eu desejei assim. Eu implorei por isso...
Leveza!
O resto, ahhhh o resto!
O resto permanece aqui. Invólucro. No sólido. Quente. Seco.
No calor infernal que queima a alma dia-a-dia. Implorando por coragem para se jogar junto com o que acaba de ir...
Maynna Delle Donne Néo