quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sopro


O corpo fica mole, paralisado. Na mente fantasias e desejos, dos mais proibidos.
A alma passeia e se sente livre.
Livre de tudo, de todos, e principalmente livre do corpo.
Passea por lugares nunca visitados antes, experimentando sensações novas.

Anseia por vida.
Por amor, por sentimento.

A alma livre é uma das coisas mais gostosas que se pode sentir.
É um calor bem lá dentro do peito, bem lá no fundo.
Um suspiro leve e demorado.

Minha alma viaja por caminhos que nem eu sei.
Caminhos secretos e indiscretos.
Misteriosos, enigmáticos.
Simplesmente viaja.
E o mundo em volta permanece invólucro.
Sem mudanças.
A mudança ocorre apenas aqui dentro.

Gosto de sentir essa sensação de liberdade, esse distanciamento da carne, do osso e do sangue.
É só eu e ela ali.
Minha alma e sua vastidão.
Mayna Delle Donne Néo

segunda-feira, 12 de julho de 2010

30 de setembro


Hoje me deparei com uma cena casual, que acontece com muitas pessoas, você ta lá caminhando na rua, e vem algum cão e lhe segue um certo tempo, tenta se aproximar, brincar.
Na verdade, não sei se acontece com tanta gente, mas comigo sempre acontece.
Mas hoje foi bem diferente, o cão que se aproximara, fizera com que eu me questionasse muito, e de uma forma muito profunda, bem mais que muitos seres humanos que passaram por minha vida.

Ele caminhou comigo o trajeto todo, brincando, me seguindo. Se eu corresse, ele disparava a correr também, parecia mesmo estar me protegendo e sem nenhuma intenção, apenas identificação, apenas sinceridade, apenas espontaneidade.
Parei em minha casa e o cão estava lá junto comigo.

E em forma de agradecimento por tua companhia em minha caminhada, resolvi preparar uma comida junto com água e dar a ele. Ele comera agradecido e eu entrei para minha casa, depois de algum tempo observei que o cão permanecia ali, e que ao me ver, os olhos deles suplicavam por um abrigo. Eu comovida, não tive outra reação, a não ser abrir a porta de casa e, dar coberta e um tapete para ele deitar.

Acordada, eu pensei. Pensei tanta coisa que acaba passando despercebido no dia a dia, Tanta gente. Correndo, trabalhando, vivendo, ocupados com as tarefas do trabalho, com o final de semana, com a prova, com a cachaça, com tudo e com nada, mas vivendo um mundinho estúpido. Vazio. Egoísta. Consumista. Individualista.

E ali estava o cão, simples, singelo, sem pretensão alguma que não fosse um afago, uma companhia. Queria apenas ser notado, que olhassem pra ele, que fizessem carinho. Estava tão acostumado a sentir a rejeição, a ver pessoas passando de um lado para o outro, a ver carros subindo e descendo. Acostumado a levar um chute, ou um grito para sumir. Ele queria o básico, o simples, ele não queria um carro de presente, não queria uma calça nova, nem mesmo um relógio importado. Ele queria estar ali comigo, apenas queria.

E pude me comparar a aquele cão. Notei várias semelhanças. Sensações que procuro e não encontro, pessoas que procuro e não acho. Situações sinceras, simples. Apenas um pouco de atenção, uma conversa que seja. Que me faça sentir que não to sozinha no mundo. Um sorriso sincero, sem maldade, pessoas puras, sabe o que isso?

Estou tão acostumada a ouvir que sou ingênua, sonhadora, que acredito em fadas e duendes, que vivo utopias, que sonho com algo que nunca acontecerá. Ok, em partes é verdade isso, mas é verdade porque a maioria pensa assim, porque a minoria não consegue ter força suficiente para mudar a situação. Porque a maioria está mais preocupada com o futebol, a cerveja, o dinheiro. Pouco importa pra elas qual o sentido da vida, qual o sentido das coisas. Afinal, isso não tem resposta obvia, isso tem que parar, e pensar gasta tempo, e tempo é dinheiro.

Continuo a procurar pessoas que não se satisfaçam com o superficial. Questionadoras. sonhadoras. Mesmo que infelizes por conta disso. Foda-se, se isso não enriquece ninguém, se não dá futuro, se são apenas ideologias utópicas. Foda- se, se isso não te dá um grau superior, um doutorado. Se não enche a tua barriga, se não te faz ser a gostosona da balada. Ou o intelectual com cara de cu.

Foda-se. Eu vou continuar a procurar.

Quero pessoas que sintam. Sintam essa vontade de mudar o mundo, sintam que é possível sim, que é difícil, que é demorado, mas que podemos contribuir um pouco para que este século evolua. Pessoas que sonham com um mundo melhor, que tenham afã de justiça. Que sonham pela essência de sonhar. Utopia? Não! Algo só é utópico quando acomodamos e ficamos parados achando que não adiantará nada nossa força, porque outros não farão. Isso é atribuir ao outro nossa própria incapacidade, fracasso. E isso eu não procuro.

Procuro o cão.
Mayna Delle Donne Néo